[Artigo] Identificação e superação de incompreensões sobre a Análise do Comportamento

A Análise do Comportamento é uma ciência sobre o comportamento que envolve pressupostos filosóficos acerca do fenômeno comportamental (Behaviorismo Radical), conceitos derivados de pesquisa básica descrevendo processos relacionados às diversas relações comportamentais (Análise Experimental do Comportamento) e grande conjunto de modelos e possibilidades de atuação profissional com base em ambas as áreas supracitadas (Análise do Comportamento Aplicada). 

Como campo científico, além de buscar compreender o fenômeno definido como seu objeto de estudo, promove tecnologias para resolução de problemas práticos humanos. Este campo de conhecimento pode contribuir muito na resolução dos mais diversos problemas humanos. No entanto, percebe-se, há décadas, que existe muita dificuldade na compreensão das propostas teóricas e práticas da Análise do Comportamento entre as pessoas que são expostas a discussões sobre seus conceitos e pressupostos filosóficos, tanto dentro como fora da psicologia. O texto de Bandeira e Malerbi (2023) analisa, através de uma revisão de literatura, os estudos que focaram as incompreensões da Análise do Comportamento e os procedimentos para tentar superar os preconceitos, elaborando possíveis estratégias que favoreçam o ensino e a divulgação deste conhecimento.

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[ARTIGO] Comportamentos, ações e hábitos: tudo a mesma coisa?

O Journal of Experimental Analysis of Behavior (Jeab) dedicou seu volume especial de janeiro de 2024 ao tema “Goal Direction and Habit in Operant Behavior” (orientação a objetivos e hábitos no comportamento operante). No artigo de introdução ao volume, Watson et al. (2024) destacam a relevância que o par de conceitos “comportamento orientado a objetivos” (do inglês  goal-directed behavior, também chamado de “ação”) e de “hábito” têm na neurociência comportamental e no estudo de diversos temas relevantes (como adição, problemas com jogos e apostas, atividade física e comer excessivo conduzidos nessa área). Ao comentarem o quanto o estudo sobre orientação a objetivos e hábitos deve aos trabalhos de Thorndike e à tradição behaviorista, eles dizem ser curiosa a escassez de estudos sobre o tema no Jeab. Qual seria o motivo dessa escassez?

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[CONCEITOS BÁSICOS]  Esquemas de Reforçamento 

O modelo da seleção pelas consequências entende o comportamento humano a partir do histórico de seus efeitos (Skinner, 1981). Isso envolve analisar quais respostas foram punidas ou reforçadas; e também notar quais estímulos produzem efeitos no comportamento de diferentes organismos. Também é fundamental entender como são feitas as apŕesentações de estímulos reforçadores; isto é, quais são os efeitos de diferentes esquemas de reforço, ou seja, os “arranjos que especificam que respostas, dentro de uma classe operante, serão reforçadas” (Catania, 1999, p. 177)

Esquemas de reforço descrevem diferentes padrões de reforçamento, cada um com efeitos distintos nos padrões comportamentais de organismos. No resumo de conceitos básicos de hoje, explicaremos as tendências dos esquemas de reforço básicos. 

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Hábitos, persistência e mudança do contexto: Uma revisão

Foto por Tirachard Kumtanom em Pexels.com

Uma coisa que é comum a cada início de ano é estabelecermos uma lista de novas metas a serem alcançadas, muitas das quais envolvem a adoção de novos hábitos ou a redução daqueles que consideramos prejudiciais para nós. Mas o que certas pesquisas têm para dizer em relação aos hábitos? Quão persistentes será que eles são? Será que essa persistência está relacionada com o contexto no qual eles são emitidos? Que diferenças existem entre comportamentos considerados como ações direcionadas a objetivos e hábitos? A revisão feita pelo Bouton (2023) propõe uma perspectiva para responder a essas perguntas.

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[CONCEITOS BÁSICOS] Discriminação simples e generalização: revisitando conceitos básicos em Análise do Comportamento

Como sistema psicológico, a Análise do Comportamento define psicologia como o estudo do comportamento (Lopes, 2010). Ainda que a literatura comportamentalista ofereça uma pluralidade de conceituações de comportamento, esse fenômeno é muitas vezes definido como a relação entre indivíduo e mundo (Tourinho, 2003). Sob essa perspectiva, comportamento não designa apenas aquilo que o indivíduo faz, ele diz da própria relação do indivíduo com o ambiente à sua volta (Tourinho, 2003). 

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[ARTIGO] Análise do Comportamento, Síndrome de Burnout e condições de trabalho

As condições de vida da maior parte da população humana presumivelmente dependem do trabalho que cada indivíduo executa. A moradia, a alimentação, o tempo de lazer, o desenvolvimento de relações sociais ou de aprimoramento pessoal,  são quase sempre dependentes diretos das condições de trabalho que temos. Outro elemento de nossas vidas vinculado a esses fatores é a saúde. É desejável avaliar como os contextos relacionados às atividades caracterizadas como “trabalho” podem afetar nossa saúde. Neste texto pretende-se apresentar uma abordagem analítico-comportamental deste tema partindo da leitura do texto “Síndrome de Burnout: uma proposta de análise sob a perspectiva Analítico Comportamental” de Schmitz e Soares (2020). Quais aspectos do trabalho podem afetar os comportamentos humanos? É pertinente pensar que possamos adoecer em função do nosso trabalho?

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[ARTIGO] Podem Análise do Comportamento e Neurociência Afetiva convergirem na compreensão das psicopatologias?

O modo como diferentes tipos de sofrimento em saúde mental são categorizados, principalmente no DSM (2014), vem sendo alvo de críticas e revisões (e.g. Hayes & Hofmann, 2020). Uma das alternativas é identificar processos transdiagnósticos como a regulação emocional, reagrupando certos quadros (como Transtornos de Ansiedade, Transtorno Depressivo Maior, Ansiedade Social etc) sob o rótulo de “transtornos emocionais”, com todos eles consistindo em dificuldades específicas de regulação (Barlow et al., 2020; Kennedy & Barlow, 2018; Sauer-Zavala & Barlow, 2021). Esse reagrupamento é feito com base em avanços de campos como psicoterapia (Linehan, 2014), regulação emocional (Gross, 2023) e neurociência afetiva (Panksepp, 2004).

No entanto, como uma consulta breve à literatura permite constatar, existem uma variedade de conceitos alternativos de emoção (Gross & Barrett, 2011; Moors, 2022), levando-nos a questionar qual seria o melhor dentre eles para falarmos de saúde mental. Para além disso, o conceito de emoção dentro da Análise do Comportamento está envolto em tantas controvérsias quanto fora da área. Como aproveitar as contribuições de diferentes disciplinas de uma forma que seja coerente com o raciocínio comportamental?

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[Textos Clássicos] Reforço positivo e negativo: É hora de abandonar essa distinção?

A construção de um vocabulário científico é uma tarefa desafiadora. Mesmo quando aceitamos divergências teóricas dentro de uma área, consensos mínimos são necessários para uma comunicação eficiente e para que se assegure a coerência interna de modelos explicativos. Terminologias que cumprem as demandas explicativas e comunicativas da ciência requerem um contínuo esforço de refinamento.  O texto resumido, a seguir, é uma publicação clássica na análise do comportamento e representa um esforço desse tipo. Jack Michael (1975), no texto “Reforçamento negativo e positivo, uma distinção que não é mais necessária (ou: uma forma melhor de falar de coisas ruins”, busca identificar os fatores que determinaram a criação e uso dos termos “reforçamento negativo” e “reforçamento positivo” e defende o abandono dessa distinção.

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[Artigo] Ensino de habilidades para formação de amizade a pessoas com TEA por meio do treino BST (Behavior Skills Training)

O desenvolvimento da amizade é um comportamento complexo. Porém, a qualidade das interações de uma pessoa e o quanto os indivíduos experimentam reforços mútuos provavelmente são influências importantes na formação da amizade (Hood et al., 2022). Déficits nas habilidades sociais, como também excessos de certos comportamentos, podem afetar a qualidade de uma interação e restringir interações posteriores para a formação de conexões significativas (Hood et al., 2022). Hood et al. (2022) realizaram um estudo para abordar habilidades de conversação em indivíduos com TEA usando treinamento de habilidades comportamentais (BST).

Crianças com déficits nas habilidades sociais podem ter dificuldades em desenvolver amizades significativas e experimentar sentimentos de solidão e isolamento (Bauminger & Kasari, 2000; Friedman et al., 2019; Hedley & Young, 2006; Howlin et al., 2004). Intervenções comportamentais têm se mostrado eficazes no ensino de uma variedade de habilidades conversacionais consideradas fundamentais para a formação da amizade (Bambara et al., 2016; Beaulieu et al., 2014; Fisher et al., 2013; Hood et al., 2017; Koegel & Frea, 1993; Leaf et al., 2009; Nuernberger et al., 2013; Stocco et al., 2021).

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[Notícia] Seminário de Desinformação e Fake News no STF com Analista do Comportamento

O Supremo Tribunal Federal (STF), em parceria com universidades públicas, promoveu o seminário “Combate à Desinformação e Defesa da Democracia”, nos dias 14 e 15 de setembro de 2023. O evento, organizado em conjunto com a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) e o Colégio de Gestores de Comunicação das Universidades Federais (Cogecom), contou com a participação de ministros, professores e grandes especialistas no tema. Dentre eles, estava o analista do comportamento Prof. Hernando Borges do Programa de Pós-Graduação em Análise do Comportamento da Universidade Estadual de Londrina (UEL), coordenando um painel sobre fake news e desinformação. O evento foi transmitido ao vivo e está disponibilizado gratuitamente na página do STF no YouTube.

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[Artigo] Linguagem e Análise do Comportamento: união robusta e promissora

Um dos fatos mais reafirmados na Psicologia é o de que a linguagem é um dos fatores determinantes da forma como interagimos e vivemos. Exemplo disso é seu impacto na intensificação de certos sofrimentos (Hayes, Strosahl & Wilson, 2021). Apesar de ser evidente a sua importância, entender como a linguagem funciona e como produz seus efeitos tem se provado uma tarefa árdua, na qual a Análise do Comportamento (AC) não se furtou em tomar parte.

Mas como caminharam as pesquisas sobre o tema na área? Vamos discutir um pouco sobre isso?

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[Conceitos básicos]   Esquiva: Definições, história experimental e implicações clínicas

Os comportamentos de fuga e esquiva são, ao mesmo tempo, imprescindíveis para a sobrevivência da nossa espécie e centrais em diversos quadros patológicos descritos na literatura da psicologia. Uma boa compreensão desses conceitos básicos é, portanto, uma das principais peças para um entendimento analítico-comportamental do ser humano, tanto no que chamam de “funcionamento saudável” quanto no adoecimento.  

De que forma esse fenômeno tem sido investigado pela psicologia? Como dados experimentais podem informar discussões sobre a prática clínica? Neste “conceitos básicos”, abordamos o conceito de “esquiva”, outros a ele relacionado e um pouco da história experimental e clínica envolvendo o termo.  

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[Artigo] Potencialidades e limitações dos jogos no autismo

Escolha uma habilidade: atenção compartilhada, comportamentos sociais, leitura, escrita ou matemática. Se você precisasse ensiná-la para alguém agora, qual estratégia você utilizaria? E se essa pessoa for autista? Qual estratégia de ensino você utilizaria? Você chegou a pensar no uso de jogos? Está demonstrado na literatura que jogos são eficazes para o ensino de variadas habilidades a diferentes públicos (Atherton & Cross, 2021; Gris & Souza, 2016; Perkoski et al., 2018; Perkoski & Souza, 2015; Suzuki, 2022).

Autistas podem apresentar maior dificuldade na aprendizagem de alguns comportamentos do que indivíduos neurotípicos, tais como: atenção compartilhada, comportamentos sociais, imitação etc. Porém, as condições que permeiam um jogo podem funcionar como facilitadoras para a aprendizagem e emissão dessas respostas (Atherton & Cross, 2021; Rogerson et al., 2018). Diante disso, Atherton e Cross (2021) revisaram parte da produção científica acerca do uso de jogos em intervenções com autistas. O objetivo foi construir um material acessível para pais e profissionais consultarem opções de jogos disponíveis para ensino de determinadas habilidades.

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[Artigo] O papel do mentalismo na produção de sofrimento e seus impactos na psicoterapia

O texto de Marques e Rodrigues (2023) resgata algumas produções de Holland (1973/2016; 1975, 1978a; 1978b) para analisar os potenciais impactos do discurso mentalista sobre o sofrimento humano e a prática psicoterápica. Os autores indicam que o termo “mentalismo” apresenta algumas diferentes caracterizações na literatura. Escolheram trabalhar com a definição de Moore (2008) e Skinner (1986), a qual é interpretada da seguinte maneira: 

[o mentalismo é] uma forma de explicar o comportamento em que se pressupõe a existência de uma relação causal entre comportamento e um componente, geralmente interno, denominado mente. Além disso, (…) o mentalismo parte de uma ideia que implica ao sujeito condições intrínsecas internas – sejam elas de origem mental, ou orgânica – que seriam as responsáveis por causar seu comportamento (p. 90).

O argumento é que o discurso mentalista produz sofrimento nas pessoas. Tristemente, é uma forma de explicar o comportamento bastante frequente no nosso dia-a-dia, no senso comum. Considera-se, portanto, muito importante entender mais detalhadamente suas implicações e, assim, podermos pensar em alternativas.

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[Artigo] Redes sociais: Uma alternativa para a redução do tempo gasto

Uma dificuldade bastante comum na era digital é o uso problemático das redes sociais, embora esse conceito não tenha ainda uma definição formal (Stinson & Dallery, 2023). Muitas pessoas têm pensado em reduzir a quantidade de tempo gasto no instagram, facebook ou outra rede social. Porém, desde 2017 até 2021 o uso diário médio das redes sociais aumentou de 136 minutos diários para 146 min (Global Web Index, 2022).

Considerando isso, Stinson e Dallery (2023) trazem uma proposta analítico-comportamental para a redução do uso das redes sociais por meio do Contingency Management (CM) ou Gerenciamento de Contingência. O CM é uma intervenção comportamental eficaz no tratamento de transtornos por uso de substâncias (Prendergast et al., 2006) e na promoção de uma ampla variedade de comportamentos relacionados à saúde, como adesão à medicação e realização de exercícios físicos (Ellis et al., 2021; Kurti & Dallery, 2013; Rosen et al., 2007)

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