[Artigo] Comportamento Governado por Regras e Aquecimento Global: Uma aproximação

Uma problemática recorrente nos últimos meses têm sido as fortes chuvas, produzidas pelo aquecimento global, que têm batido recordes de volumes, de forma muito perigosa -inclusive fatal- para pessoas que moram em lugares com maior risco de deslizamento e alagamento. Eventos climáticos como esses estão ficando cada vez mais extremos (Pontes, 2023).

O aquecimento global produz uma série de problemáticas em cadeia, tais como: altas temperaturas, aumento do nível do mar, incêndios florestais, seca e inundações, colapsos de ecossistemas e extinção de espécies.

Os efeitos do aquecimento global já são fortemente evidenciados há várias décadas (Weart, 2008). Desde os tempos pré-industriais, o uso de combustíveis fósseis, as práticas agrícolas e florestais têm aquecido o planeta em cerca de 1°C (IPCC, 2018). As populações em situação de vulnerabilidade são as que sofrem e sofrerão os maiores impactos, sendo expulsas de lugares que não podem mais sustentar comunidades humanas (Pietras, 2020).

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[Artigo] Quando falamos de misinformação e desinformação estamos falando apenas de informações incorretas?

Em um curto texto publicado na seção Focus, da revista científica Science Advances, Calo e colaboradores (2021) defendem uma distinção entre os conceitos de misinformação (em inglês, misinformation) e desinformação. A proposta dos autores, em uma perspectiva analítico-comportamental, consistiria em afirmar que a desinformação e a misinformação possuem topografias similares, mas funções diferentes. Ou seja, embora a desinformação e a misinformação envolvam “informações” que não correspondem aos eventos ambientais a que elas se referem, esses dois fenômenos ocorrem por diferentes motivos. Por possuírem funções distintas, o enfrentamento da misinformação e da desinformação demandam ações diferentes. 

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Terapia de aceitação e compromisso (ACT) para psicose: Apresentação e um caso clínico

A psicose é compreendida na literatura psiquiátrica como a experiência de alucinações e delírios (chamados de sintomas positivos), que geralmente são acompanhados de sintomas negativos como uma apatia social. Tradicionalmente, em casos de psicose, têm-se como objetivo clínico a diminuição ou eliminação das alucinações e delírios. Tal objetivo é dificilmente atingido a partir da psicoterapia – de forma que o tratamento para quadros desse tipo costuma ser majoritária ou exclusivamente psicofarmacológico.

O trabalho aqui resumido é um capítulo do livro “Intervenções Psicológicas para Psicose” (2022). Nele, são propostas formas que psicoterapeutas podem tratar pessoas experienciando sintomas psicóticos de forma alinhada com os princípios da Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT).

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[ARTIGO] Howard Rachlin: a influência de seu legado no Brasil

Não é incomum que estudiosos de um campo específico da ciência façam incursões tanto em outras áreas da ciência quanto em campos fora dela, como a Filosofia. Dentre inúmeros exemplos possíveis, podemos citar Ernst Mach, cujo trabalho The Science of Mechanics (1960) teve forte influência em Skinner (como na troca do conceito de “causa” por “relações funcionais”) (Moxley, 2005). Os trabalhos de Mach passam pela Física Experimental, Filosofia da Ciência e até Psicologia.

Mas não precisamos ir longe da Análise do Comportamento para encontrar autores com essa característica. O próprio Skinner pode ser apontado como um caso significativo de estudioso profícuo em mais de um campo (sendo que trabalhos como Ciência e Comportamento Humano (1953) e The operational analysis of psychological terms (1945) têm um forte caráter filosófico).

Seguindo a tradição profícua de Skinner, Howard Rachlin é um exemplo notável (e incontornável) de autor cujos interesses vão além do seu campo majoritário de estudos. Rachlin, falecido em 2021, deixou um legado que envolveu trabalhos em Análise Experimental e Quantitativa do Comportamento, Economia Comportamental, Filosofia do Comportamento e Filosofia da Mente. Tanto seus trabalhos experimentais – como os com Desvalorização pelo Atraso (do inglês delay discounting) – quanto seus trabalhos filosóficos – como seu Behaviorismo Teleológico – criaram tradições de pesquisa que tendem ainda a render muitos frutos.

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[Conceitos básicos] Modelagem – a arte de esculpir comportamentos operantes

O termo “modelagem” pode ser encontrado com significados muito distintos na cultura. Aparecem noções envolvendo desenho, escultura e até moda. Na Análise do Comportamento, ele apareceu em 1953 no livro “Ciência e Comportamento Humano” de B. F. Skinner. Sendo comumente usado para designar a construção de objetos com argila, este autor utilizou o termo “modelagem” para se referir a um dos procedimentos envolvidos no condicionamento operante. Mais especificamente, o efeito de “esculpir” um novo comportamento a partir de uma “massa original indiferenciada” em estágios sucessivos passíveis de análise retroativa (Skinner, 1953/2003). 

O termo modelagem, em geral, é definido como: um procedimento de reforçamento diferencial de aproximações sucessivas de um comportamento que gera uma nova resposta (adaptado de Catania, 1998/1999 e Moreira e Medeiros, 2007). É comum vermos algumas dificuldades na compreensão inicial deste procedimento e os elementos que o envolvem. Tendo isto em vista, e o fato de que é uma terminologia usada frequentemente na área, vejamos qual a importância de falarmos sobre este tema.

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[Artigo] Altruísmo e Análise do Comportamento: é possível uma discussão compatível?

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De acordo com Andery et al. (2005), não há dúvida sobre a incorporação de fenômenos sociais entre os objetos de estudo da Análise do Comportamento. O comportamento social já foi definido por Skinner (1953) como o comportamento de pelo menos duas pessoas: uma em relação à outra ou conjuntamente em relação ao ambiente em comum. Assim, a preocupação com o estudo de fenômenos sociais não é uma novidade. Porém, desde 1990, há aumento na produção analítico-comportamental de explicações que buscam contribuir com as discussões do comportamento social (Holpert, 2004). O trabalho de Guimarães e Laurenti (2021) sistematiza as explicações do altruísmo apresentadas pela Análise do Comportamento por meio da descrição das principais variáveis referidas nos estudos analítico-comportamentais.

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Efeito de custo e tempo afundado: Os comportamentos e tempo que investimos em determinada ação influenciam nossa persistência?

Quantas vezes nos perguntamos: “por que continuo a fazer isso mesmo sem produzir resultados?”? Quantas vezes passamos muito mais tempo do que o planejado esperando alguém, em uma fila, em um curso ou em um relacionamento mesmo quando tudo sinaliza que não tem consequências previstas ou que, pelo menos, na maior incerteza delas?

Um fenômeno que tem origem na economia e então foi trazido para a Psicologia e Análise do Comportamento pode ajudar a entender tais ações. O fenômeno é chamado de sunk cost effect (efeito do custo afundado).

O estudo de tal fenômeno é recente e foi inicialmente apresentado pelos psicólogos Arkes e Blummer (1985). O custo afundado descreve a tendência a persistir em um curso de ação devido ao investimento de dinheiro, tempo ou custo da resposta anterior à necessidade de assumir novos cursos. 

Originalmente os autores queriam saber por que alguns cursos de ação continuavam acontecendo mesmo quando não há sinalização de bons resultados. Perguntaram aos participantes se eles investiriam em um projeto de avião em que já haviam começado a investir (sem possibilidade de recuperar o dinheiro), ainda que durante o desenvolvimento do projeto um concorrente apresentasse um projeto melhor e mais barato. Então criaram cenários de valores distintos de investimentos antes do aparecimento da concorrência. Os resultados apontavam para a maior persistência quando havia maiores investimentos prévios. Em um segundo questionário eles criaram um cenário no qual uma pessoa comprou dois pacotes de viagem, um com o dobro do valor do outro. A viagem de menor valor seria mais interessante para eles. Ambas as viagens eram no mesmo fim de semana e não reembolsáveis. Os participantes então decidiam em qual iriam. A maioria dos participantes (56%) escolheu a viagem que custou mais para ir, mesmo sendo menos interessante para eles, demonstrando o efeito do custo afundado.

Este fenômeno foi inicialmente relacionado com a Prospect Theory de Kahneman e Tversky (1979). Esta proposta afirma que as pessoas tomam decisões controladas não apenas pelo resultado final, mas pelos potenciais ganhos e perdas e estas duas últimas influenciam uma à outra. Muitas perdas previstas para uma alternativa pode deixar a outra com poucos ganhos muito mais controladora. Os autores afirmam que as perdas geram reações emocionais e valem assimetricamente mais que os ganhos. Por exemplo, deixar de ir em um programa de interesse só seria compensado em caso de poder ir em pelo menos dois outros.

Em Análise do Comportamento, o efeito sunk cost tem sido estudado na área chamada de persistência comportamental. É um fenômeno complexo com múltiplas possibilidades de controle. Carreiro (2005) e Campos (2019) afirmam que processos como o do momento comportamental e das regras podem estar relacionados com a manutenção do responder nestes casos de incerteza frente às consequências do responder.

A partir de agora apresentaremos um estudo de autoria de Navarro e Fantino (2009) que fala sobre um processo correlato, mas no qual o investimento foi de tempo e não dinheiro ou respostas. Neste caso, nenhuma ação específica é necessária, mas o tempo dispendido no curso da ação. Quando estamos em uma fila de banco não há  nenhuma resposta específica além de ficar na fila. Este fenômeno recebe o nome de sunk time (tempo afundado). Será que o tempo investido em um determinado curso de ação também produz persistência no comportamento dos organismos? O tempo de espera de um caçador por uma caça impacta em sua permanência em um lugar de baixa densidade de presas? O tempo de permanência em uma fila de banco impacta na persistência até se conseguir resolver suas questões? O tempo em um curso superior que não é reforçador impacta em sua permanência?

No referido estudo os autores desenvolveram uma série de 4 experimentos para avaliar o efeito do tempo e suas qualidades na persistência. 

No Experimento 1, os participantes eram instruídos a imaginarem que eram líderes em uma empresa de mineração de cobre. Os equipamentos sinalizavam para uma jazida de pouco minério e pelo menos mais 10 dias até encontrá-la. Três condições foram delineadas: 1) tempo zero; 2) tempo fácil e 3) tempo duro. No tempo 0 eles acabavam de chegar na mina e recebiam as informações da jazida. No tempo fácil as descrições foram as mesmas com a adição de que já estavam escavando há 60 dias. No tempo difícil o tempo de escavação era o mesmo, mas fora descrito que ela foi difícil e com muitos esforços. Em todos os casos os participantes deviam dizer se continuariam escavando por mais 10 dias. Os resultados foram que 34% dos participantes no tempo zero, 55% dos participantes no tempo fácil e 68% dos participantes no tempo difícil escolheram persistir. Este dado sugere que o custo empregado impactou na persistência nesse curso de ação. Vale ressaltar que esta pesquisa era exclusivamente de relato. O Experimento 3 foi uma replicação do Experimento 1 invertendo a palavra fácil por difícil, logo tendo as condições palavras sinônimas. Os resultados foram semelhantes tendo ambas as condições com sinônimos 56% e 59% de persistência. Em um artigos dos mesmos autores de 2005, os autores desenvolveram um programa no qual o custo da resposta eram esquemas FR (razão fixa) em proporções distintas. Esquemas FR de baixo custo eram mais prováveis e de alto custo menos prováveis. Os dados da pesquisa de 2005 corroboram com os dados da presente pesquisa, apresentando sunkcost (persistência nos esquemas maiores de FR) mesmo quando a melhor opção seria suspender a tentativa e iniciar outra com outro sorteio de esquema FR. 

O Experimento 2 testou se tempos entediantes ou excitantes afetariam a persistência. A primeira condição era a controle sem tempo afundado e sem descrição de diversão na pedreira. Na segunda condição era dito que o tempo na pedreira era divertido pois você estava com seus amigos (tempo divertido). A outra condição era de tempo aversivo na qual o participante tinha que acompanhar e corrigir constantemente a ação dos seus colaboradores que não eram experientes e logo você não estava se divertindo de forma nenhuma. Os resultados são de que 11%, 25% e 31% dos participantes decidiram manter a mineração nas condições: tempo zero; tempo divertido e tempo aversivo respectivamente, mais uma vez demonstrando que o custo impactou nas escolhas. 

No Experimento 4 os pesquisadores mudaram a referência de líder de um grupo para o participante ser o minerador. Neste experimento havia apenas duas condições: 1) pouco tempo e 2) muito tempo. Na condição 1 ele acabava de avaliar e não havia iniciado ainda as escavações. Na condição 2 já havia 60 dias de escavação. Os dados foram de que 47% e 86% dos participantes escolheram persistir nas condições pouco e muito tempo respectivamente. Logo a implicação da resposta diretamente ao participante e o tempo foram controladores importantes para a diferença na persistência comportamental.

Tá bom, o tempo importa. Mas por que é importante? Muitos fenômenos cotidianos podem ser analisados sobre esse processo. Relacionamentos afetivos, por exemplo. Zordan, Wagner, Mosmann (2012) coletaram dados em fóruns e descobriram que apenas 21,2% dos divórcios foram após 22 anos de casamento. Será que relacionamentos longos não têm problemas? Será que seria pelas emoções e sentimentos que funcionariam como operação abolidora das funções aversivas dos defeitos do outro e conflitos? Ou pode ser pelo tempo e investimento já feito no relacionamento antes dos conflitos e evidentes falhas que o outro possa ter?

Sobre a relação entre tempo afundado e relacionamentos, Rego, Arantes e Magalhães (2016) delinearam experimentos para verificar a relação entre sunk cost e sunk time e outras variáveis. No Experimento 1 eles criaram um cenário no qual os participantes estavam infelizes e sem reforços no relacionamento. Desenvolveram quatro condições: 1) controle; 2) tempo; 3) dinheiro e 4) esforços. Na primeira condição era apenas dito que havia 1 ano de relacionamento. Na segunda era dito que o relacionamento durara 10 anos antes da situação atual. A condição três descrevia que eles haviam investido todo seu dinheiro em um bem comum. E na condição quatro o participante havia tentado custosamente resolver, conversando e passando mais tempo com o (a) parceiro(a). As condições controle e tempo produziram os mesmos resultados, mostrando que a mera passagem do tempo não foi suficiente para aventar a possibilidade de término. No entanto, quando havia dinheiro ou esforços houve mais persistência (aumento de 25% para 35% e 36% respectivamente). 

No Experimento 2 as autoras repetiram apenas condições controle (1 ano de relacionamento) e tempo (10 anos de relacionamento) e usaram duas medidas de variável dependente para a pergunta: “Quanto tempo vocês investiriam em um relacionamento neste cenário?”. Uma das medidas era visual na forma de uma régua que variava de 0 a 100 com “tempo algum” junto ao 0 e “muito tempo” junto ao 100. A segunda medida era um número em dias de persistência nesse relacionamento. Os resultados demonstraram indiferença entre as condições para a régua, mas efeito com mais persistência com 10 anos de relacionamento na quantidade de dias investidos na relação. O efeito foi de 289 dias em média para a condição controle e 587 dias para a condição tempo. 

Este último estudo é apenas um exemplo de como o processo de custo afundado e tempo afundado podem ser importantes nas análises de contingências de comportamentos cotidianos. Compreender tais processos auxiliaria no planejamento de intervenções mais acuradas e produtoras de mudanças. Há ainda muito a fazer e muitas variáveis a serem investigadas. Junto ao meu laboratório estamos investigando variáveis como: 1) comparação entre sunk cost e sunk time nos mesmos participantes usando o sujeito único como delineamento; 2) efeito de regras diretas e contextuais no fenômeno; 3) inclusão de esforço durante a passagem de tempo para compreender a relação entre os fenômenos; 4) reforços sociais no fenômeno de sunk cost em relacionamentos (“vocês fazem um belo casal”); 5) comparação entre custo afundado e massa de respostas reforçadas (momento comportamental) na persistência do responder em relacionamentos e experimentos com operantes sem contexto e 6) efeito de operações disruptivas como conflitos conjugais ou mesmo violência na persistência comportamental.

Ah! Se você continuou lendo desde o início mesmo não achando interessante ou com a sensação de “quero ver onde vai dar esse texto”, seu comportamento de leitura pode ser descrito nos termos do efeito sunk cost.

Referências

Arkes, H. R., & Blumer, C. (1985). The psychology of sunk cost. Organizational Behavior and Human Decision Processes, 35, 124–140. doi:10.1016/0749-5978(85)90049-4.

Campos, Monique Andrade. (2013) O papel de instruções falsas e verdadeiras sobre o feito sunk cost. Dissertação (Mestrado em Ciências do Comportamento), Universidade de Brasília, Brasília.

Carreiro, P.L.(2007). Efeitos da probabilidade de reforçamento e do custo da resposta sobre a persistência comportamental. Dissertação (Mestrado em Ciências do Comportamento), Universidade de Brasília, Brasília

Kahneman, D. e Tversky A. (1979). Prospect Theory: An Analysis of Decision under Risk Econometrica, Vol. 47, No. 2, pp. 263-291Rego, Sara; Arantes, Joana; Magalhães, Paula (2016). Is there a Sunk Cost Effect in Committed Relationships?. Current Psychology, (), –. doi:10.1007/s12144-016-9529-9

[Artigo] Formação de cientistas ou de “fazedores” de artigos?

A pós-graduação stricto sensu, desde a sua instituição formal em 1965, visa formar cientistas e professores de nível superior (Almeida Júnior et al., 2005). Assim, ao longo do mestrado e doutorado, o(a) aluno(a) de pós-graduação aprende duas novas profissões que se somam à profissão aprendida durante a graduação (Botomé & Kubo, 2002). Um psicólogo que concluiu adequadamente o curso de doutorado pode, portanto, exercer três profissões diferentes: a de psicólogo, a de cientista e a de professor universitário.

Na literatura, a formação de professores em programas de pós-graduação (PPG) é frequentemente alvo de análise e discussão. Investigações de diversas naturezas denunciam, por exemplo, as deficiências e as limitações da formação docente nesse nível de ensino (e.g., Ferraz et al., 2020). Em contraste, a formação científica em mestrados e doutorados recebe menos atenção na literatura e sua qualidade e abrangência são, dessa forma, menos conhecidas (Guazi, 2022). 

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[Artigo] Que tal usar a tecnologia a nosso favor?

“É característico da espécie humana que a ação bem-sucedida seja automaticamente reforçada. O fascínio pelos videogames é uma prova adequada.”

(Skinner, 1984, p. 952)

Não deveríamos, então, fazer uso de recursos dos jogos eletrônicos para o ensino e a manutenção de comportamentos desejáveis? Ma e Yang (2021) identificaram e testaram a possibilidade de usar recursos de videogame para o ensino de comportamentos a crianças autistas. Para tanto, desenvolveram e aplicaram quatro jogos somatossensoriais a um grupo experimental e os resultados foram comparados com o desenvolvimento do grupo controle que recebeu a intervenção tradicional.

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[ARTIGO] Quem tem medo do behaviorês?

É comum ouvirmos que a linguagem da Análise do Comportamento (AC) tende afastar o público (geral e científico) por ser muito técnica e, às vezes, contraintuitiva (Becirevic et al., 2016; Critchfield, Doepke, et al., 2017; Lattal & Poling, 1981). Normand e Donohue (2022) apresentam dois exemplos de argumentos para essa afirmação os de que (1) o raciocínio teórico da AC vai na contramão da visão popular das causas do comportamento (que tende a ser internalista/mentalista) ou (2) de que, em determinados tópicos (como comportamentos de escolha) a comunidade científica e as mídias tendem a reforçar falas de autores como Daniel Kahneman (um conhecido pesquisador que trabalha com Economia Comportamental e escolha, com, dentre outras coisas, muito material em vídeo disponível na internet) ao invés de as de outros como B.F. Skinner (mesmo quando falam de temas semelhantes) devido a diferenças entre fatores como popularidade e prestígio social.

Mas, de acordo com Normand e Donohue (2022), a investigação empírica dessas suposições não nos permite fazer afirmações tão contundentes sobre os efeitos do uso de termos técnicos. Vamos acompanhar um pouco mais dessa discussão?

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[ARTIGO] Que tipo de controle é ético?

Murray Sidman (1923-2019) é amplamente reconhecido como um dos maiores nomes da história da análise do comportamento; tanto por suas contribuições teóricas fundamentais para a área – como o desenvolvimento das conceituações sobre classes de equivalência – quanto por sua preocupação com a comunicação entre analistas do comportamento e a população geral no que diz respeito à acessibilidade aos conceitos e seu uso com responsabilidade social e política. Em um de seus mais importantes trabalhos: “Coerção e suas implicações” (1989), essas preocupações se manifestam em uma tentativa de distinguir, para especialistas e leigos, controle e coerção – sendo o primeiro, parte inerente das interações comportamentais e o segundo um conjunto de práticas que ele compreende como ineficazes e antiéticas. 

No artigo de Rocha & Hunzinker (2021), aqui apresentado e discutido, os autores habilmente abordam os problemas conceituais dessa distinção de Sidman (1989) entre coerção e controle. As discordâncias com Sidman não se opõem aos esforços do autor em relação às preocupações éticas e políticas a respeito da coerção, e sim fortalecem um entendimento do tema, contribuindo para uma defesa rigorosa e eficaz de práticas éticas na vida em sociedade. 

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[RBTCC] Chamada de artigos para o Volume Especial “Saúde mental e o enfrentamento da pandemia: Contribuições das Ciências do Comportamento”

A Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva (RBTCC) irá promover um volume especial sobre Saúde mental e o enfrentamento da pandemia: contribuições das ciências do comportamento. As submissões estão abertas e serão encerradas no dia 10 de dezembro de 2022. Serão aceitos manuscritos em Português, Espanhol e Inglês nas modalidades de Pesquisas Originais, Revisões Sistemáticas da Literatura e Estudos de Caso.

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[ARTIGO] Educando para que e por quem: O projeto político da educação da sensibilidade

O texto de Fernandes (2021) apresenta uma discussão acerca da intersecção entre educação, ética, política e Análise do Comportamento. O autor parte do projeto proposto por Abib (2007) para uma educação da sensibilidade e destaca a dimensão política desta proposta. Esta dimensão política é avaliada pelo autor como a menos tratada na literatura analítico-comportamental em comparação com educação e ética, temáticas abundantes nos textos de Skinner. A educação da sensibilidade pode ser inicialmente entendida como um planejamento de contingências para desenvolver repertórios individuais relacionados a um tipo específico de sensibilidade comportamental: a sensibilidade ao outro, ou seja, tornar indivíduos mais sensíveis aos outros indivíduos quando emitem seus próprios comportamentos, sejam eles quais forem.

Fernandes (2021) posiciona-se criticamente em relação a afirmação de Skinner (1972) de que as culturas sobrevivem pela sua capacidade de resolver problemas no sentido da limitação política deste argumento, especialmente quando se analisa os choques de culturas dentro do próprio sistema capitalista hegemônico. O autor destaca a tensão entre o acúmulo de recursos econômicos e políticos de uma minoria em detrimento das necessidades básicas de uma maioria e aponta a necessária decisão cultural de qual padrão de práticas deve sobreviver. Para desenvolver sua proposta, Fernandes (2021) inicia fazendo uma breve apresentação das noções de educação, educação da sensibilidade e de política no seu texto.

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[Entrevista] Mark Mattaini: Uma perspectiva de sistemas culturais da Análise do Comportamento e para a Análise do Comportamento

No próximo mês será realizado o XXXI Encontro da ABPMC em formato on-line. Este congresso contará com a participação de inúmeros estudantes, pesquisadores e profissionais, que discutirão os mais diversos temas relacionados à ciência comportamental.

Um dos pesquisadores convidados é o Dr. Mark Mattaini, que ministrará a palestra “Strategic nonviolent power: supporting global justice?” (Poder não-violento estratégico: favorecendo a justiça global?). Mattaini é professor da Universidade de Illinois, em Chicago (IUC), e pesquisador nas áreas de psicologia social e análise comportamental da cultura, onde aborda temas como prevenção da violência, promoção de justiça social, ativismo, assistência social e intervenções comunitárias.

O Boletim Contexto teve o prazer de conversar com Mark Mattaini a respeito de seu trabalho sobre a análise de sistemas culturais em uma perspectiva analítico-comportamental, inserindo a própria Análise do Comportamento e a Psicologia científica como objetos de análises e melhorias. As perguntas foram feitas pela Fabiane Fogaça, editora-chefe da Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva (RBTCC); já a tradução e a revisão do texto foram feitas pelo Daniel Assaz.

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[Artigo] Até que ponto as crenças do terapeuta influenciam as decisões clínicas?

A preocupação com o uso de tratamentos empiricamente sustentados e com a utilização de práticas baseadas em evidência tem tomado corpo e se tornado robusta no contexto das psicoterapias. Esse crescimento, no entanto, não se dá sem debate e dificuldades. Dentre elas, uma questão importante é o fato de que os profissionais tendem a preterir tratamentos com boas evidências empíricas, mesmo em situações nas quais sua aplicação seria recomendada considerando as especificidades dos clientes e a perícia clínica. Um exemplo disso é Terapia de Exposição com Prevenção de Respostas (ERP) para casos de Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC), amplamente testada e com eficácia demonstrada a tempo considerável, mas, ainda assim, preterida em muitos contextos.

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