[Livro] Lançamento na ABPMC 2017! Resenha de Pesquisa Teórica em Psicologia: Aspectos Filosóficos e Metodológicos

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A resenha a seguir foi escrita pela Dra. Monalisa Leão a pedido do Boletim Contexto. Monalisa Leão é graduada em Psicologia pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – CPAR, fez Mestrado em Análise do Comportamento e Especialização em História e Filosofia da Ciência pela Universidade Estadual de Londrina, e Doutorado em Teoria e pesquisa do Comportamento pela Universidade Federal do Pará, com período sanduíche na Universidade de Harvard e Fundação B. F. Skinner. Ela é Editora Associada do Boletim Operants da Fundação B. F. Skinner e dedica-se preferencialmente às questões conceituais do Behaviorismo Radical e às relações entre Análise do Comportamento e Biologia Evolutiva. Boa leitura!

A psicologia, desde seus primórdios, foi alvo de inúmeras críticas e é, ainda hoje, um campo de conhecimento com confusão conceitual. Partindo-se de uma concepção de história não progressista, isso não implica que tal ciência não tenha avançado e que novas formas de produção de conhecimento em psicologia não tenham sido desenvolvidas. Sabe-se, porém, que avanços metodológicos em pesquisas empíricas não garantem a solução de problemas conceituais, pois esses demandam outro tipo específico de pesquisa, a teórica, voltada para a investigação de teorias e conceitos psicológicos. A despeito de sua importância, esse tipo de pesquisa tem sido por vezes negligenciado nos contextos de ensino de pesquisa em psicologia, e até mesmo não reconhecido como pesquisa legítima. Além disso, pesquisadores interessados nesse tipo de investigação encontram uma série de dificuldades, que vão desde a aprovação de auxílio financeiro das agências de fomento até a publicação de resultados de suas pesquisas em periódicos nacionais e internacionais da área.

Frente a esses percalços, será que vale a pena se dedicar a pesquisa teórica em psicologia? Esse tipo de pesquisa poderia contribuir para o desenvolvimento dessa disciplina científica? Se as respostas forem afirmativas, ainda nos resta questionar como fazer pesquisa teórica em psicologia ou quais aspectos metodológicos e filosóficos deveriam ser considerados nesse tipo de investigação. Essas são somente algumas das questões que permeiam o livro Pesquisa teórica em psicologia: Aspectos filosóficos e metodológicos, organizado por Carolina Laurenti, Carlos Eduardo Lopes e Saulo Freitas Araujo. Esta obra é composta por seis capítulos, os quais são complementares entre si e que, quando considerados em conjunto, cumprem com o propósito geral de oferecer subsídios que auxiliam no desenvolvimento de pesquisas teóricas em psicologia. Trata-se da primeira proposta de autores brasileiros de apresentar reflexões e experiências pessoais na elaboração e orientação de trabalhos dessa natureza na área, tanto em nível de graduação quanto de pós-graduação.

No primeiro capítulo – Relações entre pesquisa teórica e pesquisa empírica em psicologia – Carlos Eduardo Lopes discute as nuanças que perpassam a dicotomia tradicional dessas duas formas de investigação científica na psicologia contemporânea. A reflexão apresentada pelo autor é instigante porque ele escolhe contextualizar essa questão no âmbito da relação entre filosofia e ciência, estabelecida desde a modernidade. Tal percurso histórico permite ao leitor acompanhar as raízes da fragmentação desses dois tipos de pesquisa, o que deu origem a diferentes relações entre psicologia, ciência e filosofia. O capítulo mostra que, de forma quase paradoxal, uma relação conflituosa entre pesquisas empíricas e teóricas pode ser um caminho promissor para uma possível contribuição mútua entre elas.

No segundo capítulo – Metodologia da pesquisa conceitual em psicologia – Carolina Laurenti e Carlos Eduardo Lopes resgatam a questão do método nesse tipo de investigação, a qual tem sido por vezes desconsiderada quando comparada com discussões metodológicas no âmbito de pesquisas empíricas. Os autores discutem aspectos como objetivo, objeto, níveis de análise, escopo e pressupostos filosóficos da pesquisa conceitual. Ademais, partindo-se do pressuposto de que a pesquisa conceitual apresenta uma metodologia específica, este capítulo explicita, de forma bastante didática, um procedimento metodológico para pesquisas conceituais em psicologia, com destaque para um procedimento de interpretação conceitual de texto (PICT), auxiliando tanto na construção de interpretações, como no ensino desse tipo de pesquisa na graduação e pós-graduação.

No terceiro capítulo – Fontes de confusão conceitual na psicologia – José Antônio Damásio Abib apresenta uma reflexão sobre algumas confusões conceituais relacionadas à pluralidade que circunscreve a psicologia. Ao longo do capítulo, o autor evidencia como a análise conceitual pode contribuir para o esclarecimento de equívocos na área e para o esclarecimento de muitas confusões conceituais supostamente inerentes ao campo psicológico, embora isso não implique na defesa de um projeto unitário de psicologia científica.

No quarto capítulo – A integração entre a história da psicologia e a filosofia da psicologia como programa de pesquisa teórica – Saulo Freitas Araujo discute como a integração entre a história da psicologia e a filosofia da psicologia pode ser uma das formas possíveis para a elaboração de um programa de pesquisa teórica na área e que relaciona, de modo efetivo, as investigações de cunho histórico e teórico. Como complementação, no capítulo seguinte – A investigação histórica de teorias e conceitos psicológicos: breves considerações metodológicas – o autor apresenta ainda algumas diretrizes metodológicas para conduzir uma investigação histórico-filosófica de teorias e conceitos psicológicos, utilizando exemplos concretos da literatura especializada. O capítulo aborda aspectos como: escolha do tema; busca exploratória de material já publicado; definição do problema de pesquisa; identificação, seleção e localização das fontes; planejamento e cronograma; apresentação e discussão dos resultados; dentre outros pontos a serem considerados para a construção de uma história filosófica da psicologia.

No último capítulo do livro – Biografia científica e a pesquisa teórica da historiografia da psicologia – Robson Nascimento da Cruz discute como o gênero biográfico tem sido incorporado no âmbito da historiografia da história e na historiografia da história da ciência, conduzindo para uma reflexão do lugar atual da biografia na historiografia da psicologia. O autor ainda explicita como esse gênero pode ser inserido na pesquisa teórica da história da psicologia, auxiliando no esclarecimento de teorias e conceitos psicológicos. Para tanto, o capítulo também traz um exemplo concreto, no qual fontes biográficas e autobiográficas foram utilizadas como recursos para uma análise teórica dos primórdios do projeto científico skinneriano de psicologia.

O livro Pesquisa teórica em psicologia: Aspectos filosóficos e metodológicos traz, em seu conjunto, contribuições indispensáveis para os profissionais interessados na elaboração, supervisão e ensino de pesquisas de natureza teórica em psicologia. Além disso, a obra oferece subsídios que possibilitam ao pesquisador apresentar, ao final de seu trabalho, uma descrição clara dos procedimentos metodológicos por ele adotados, abrindo, com isso, a possibilidade de críticas que apontem falhas ou inconsistências ao longo do processo. É válido ressaltar que o livro não tem a pretensão de esgotar as discussões que perpassam esse universo específico de pesquisa, assim como não têm a função de garantir, com essas diretrizes metodológicas sugeridas, a reprodutibilidade dos resultados desse tipo de investigação. Trata-se, por fim, de uma obra que revela a importância do estudo teórico em psicologia e que aponta direções elucidativas para quem pretende se inserir ou permanecer nesse campo de pesquisa.

Uma resenha de:

Laurenti, C., Lopes, C. E., & Araujo, S. F. (Orgs.). (2016). Pesquisa Teórica em Psicologia: Aspectos Filosóficos e Metodológicos. São Paulo: Hogrefe, 167p.

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